segunda-feira, 19 de abril de 2010

Atores que defendem tramas sociais em novelas falam do seu envolvimento com os temas fora da TV

Cena de Malhação

RIO - Jovem viciado em crack, João, interpretado por Candé Faria em "Malhação ID", terá um final trágico esta semana na trama escrita por Ricardo Hofstetter: morrerá atropelado. Parte do merchandising social da novelinha adolescente, o personagem foi criado como forma de alerta. Mas no que depender do ator, seu trabalho não será encerrado aqui.

- Com certeza o mais importante com esse personagem foi levar informação sobre o assunto, que, infelizmente, é mais comum do que a gente imagina - afirma Faria, dizendo não ser sua intenção "levantar bandeiras". - Mas o ator também tem a função de porta-voz - pondera.

Marcos Frota concorda. Depois de interpretar quatro personagens portadores de deficiência - o último foi Jatobá, o cego da novela "América" (2005) -, engajou-se ainda mais. Além de participar da Semana Nacional de Luta pelos Direitos das Pessoas com Deficiência, que acontece sempre em setembro, ele costuma ministrar palestras sobre o assunto em congressos, feiras e até universidades.

- O ator que faz um papel desse tipo precisa se preparar para ficar marcado. Mas juntar o exercício profissional com a contribuição social é uma honra - diz Frota.

Dono de uma companhia circense, ele emprega artistas portadores de deficiências.

- Hoje carrego comigo a bandeira da inclusão full time - declara o ator e empresário, que voltará ao ar na próxima trama das 19h da TV Globo, "Ti ti ti".

Personagens que fazem parte do merchandising social de uma novela geralmente exigem mais cuidados dos atores, além de muita pesquisa antes do trabalho. No ar em "Viver a vida" como a tetraplégica Luciana, Alinne Moraes conta com a colaboração da cadeirante Flávia Cintra, que já declarou à Revista da TV: "A Alinne é um gigante, uma pessoa que vai sempre fazer algo pela causa das pessoas com deficiência".

Ainda é cedo para saber se a atriz continuará a defender a causa após o fim da novela. Mas a contribuição de sua personagem, criada pelo autor Manoel Carlos, é inegável. E Alinne sabe disso.

- A grande contribuição é da Luciana e não da Alinne. Mas fico feliz de poder fazer parte de toda essa mobilização - conta a intérprete de Luciana, certa de que a personagem marcará sua carreira. - O assunto mexe com as pessoas, não só com as que têm a deficiência física, mas também com aquelas que desconheciam os limites e o potencial dessas pessoas.

Para Sidney Santiago, que viveu o esquizofrênico Ademir em "Caminho das Índias", o ator sempre acaba desenvolvendo algumas responsabilidades sociais depois de interpretar personagens envolvidos em campanhas específicas.

- Esse tipo de personagem nos faz descobrir todo um universo que antes ignorávamos parcialmente. Hoje estou em contato com coletivos formados por ONGs e outras instituições que estão na luta em prol do movimento antimanicomial - informa Santiago.

A mesma trama de Glória Perez trazia Bruno Gagliasso no papel do jovem esquizofrênico Tarso. O ator chegou a criar um blog para dividir seus estudos sobre o assunto com o público.

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