sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Tramas fúteis e sem densidade roubam a força visual de 'Malhação'

Casal da nova temporada de 'Malhação ID'. Foto: TV Press

A nova dentição de Malhação aproxima-se da perfeição técnica. Enquadramentos precisos, movimentos de câmaras de grande exatidão, apuro visual na relações de cor entre as figuras em primeiro plano e o fundo das cenas, ausência de quebras de áudio e de imagem revelam a alta qualidade industrial alcançada pela Rede Globo. São méritos que nem sempre são percebidos objetivamente pelos telespectadores, mas que contribuem decisivamente para uma sensação de beleza, aos cuidados do diretor Ricardo Waddington. O capítulo de estreia marcou 16 pontos no ibope, quase o mesmo do episódio final da antiga temporada, a Malhação ID.

Entretanto, a excelência técnica não supera a indigência artística. Quinze anos e 18 temporadas depois de surgir no ar, Malhação continua sem explorar de maneira mais aprofundada as relações e as características dos adolescentes das grandes cidades brasileiras, tema central de sua dramaturgia, apoiada igualmente em seriados norte-americanos. Nesta temporada o núcleo de garotas ricas de Malhação aproxima-se da série Gossip Girl.

É difícil definir personagens-modelos para os adolescentes brasileiros, vindo de classes sociais diferentes e de grupos extremamente variados de todo o país. O resultado é que este universo tão variado termina achatado no Colégio Primeira Opção, ambiente que tenta congregar personagens que deem conta dessa diversidade cultural.

Por isso mesmo, Malhação costuma aproximar alunos pobres e ricos, como forma de discutir as diferenças sociais no Brasil sob o ponto de vista dos jovens. A mais recente temporada, batizada de Cidade Partida, explora as desigualdades, mas de forma idilizada. Não há, ao menos nos primeiros capítulos, uma pobreza expressa com clareza no "folheteen". As casas e ruas dos subúrbios cariocas são de beleza pitoresca; mesmo o trem da Central frequentado pelos personagens Theo, de Ronny Kriwat, e Pedro, de Bruno Gissoni, é graciosamente vazio, a despeito das sistemáticas críticas de superlotação que sofrem de seus usuários.

Aparentemente Malhação ainda não conseguiu alcançar a maturidade dramática e oferecer a seus jovens atores personagens mais consistentes e capazes de diálogos e situações mais ricos e duradouros. Curiosamente é o que mais acontece na adolescência, momento de descobertas e de experiências marcantes na vida de cada um. Mas, por enquanto, os papéis permanecem monovalentes e monotemáticos, como uma canção de Justin Bieber ou uma calça de cintura baixa. Que, aliás, já saiu de moda.

Malhação - Globo - Segunda a sexta, às 17h24.

Mauro Trindade

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