“Malhação” inicia nova temporada com desafio de reconquistar o jovem

O primeiro episódio da atual temporada de “Malhação” fechou com 17 pontos de média, uma audiência bem distante do que o programa marcada há alguns anos. Dados obtidos pelo “Parabólica” mostram que a melhor temporada de “Malhação” foi a de 2004, que fechou com 31,7 de média geral. Um ano depois, a novela fechou com 30,9. Em 2008, a trama adolescente já estava em 21,4 pontos e a última temporada (“Malhação ID”) marcou 18,9 de média geral.
Até para compreender melhor a reação do público com “Malhação”, o “Parabólica” pediu a ajuda de uma telespectadora de muitas temporadas da “novelinha”. Mariana Toledo, 19 anos, estudante de jornalismo, aceitou o convite.

Uma rodada de suco para galera!

Mocotó, Gui, Nanda, Julia e Pedro – são muitos os personagens que fizeram história na telenovela Malhação, que há quinze anos é exibida por volta das 17h30 na Rede Globo. Mas depois de tanto tempo, tem ficado evidente o esgotamento de roteiro, a dificuldade de inventar novas tramas e, principalmente, como os roteiristas mantiveram-se atrelados a uma juventude que não existe mais.
Há alguns anos, a história de Malhação parece ter estacionado, e assistir ao primeiro capítulo da novela é o suficiente para saber o que irá acontecer na temporada inteira. O formato é sempre o mesmo: há um casal protagonista, formado por uma mocinha mais pobre e um menino riquinho (ou vice-versa); uma vilã, apaixonada pelo personagem principal e disposta a fazer de tudo para destruir o relacionamento dele; um outro menino, não necessariamente vilão, mas que é apaixonado pela protagonista e que, por conta disso, vai acabar aliando-se à vilã para conseguir o que quer; casais paralelos, com historinhas sem grande importância; professores (um casal dentro do corpo docente também é comum) e muitos, muitos figurantes.
Na primeira semana da temporada, o casal principal se conhece, se apaixona, fica junto e tudo é lindo. Quando as aulas começam, a vilã passa a mentir e armar situações para que eles briguem. Eles se separam, ficam com outras pessoas, voltam a namorar, se separam de novo e assim por diante – até o inevitável final feliz do último capítulo.
Entre as idas e vindas dos relacionamentos, a Malhação tenta abordar temas polêmicos, como gravidez indesejada, deficiência física, problemas familiares, adoção, entre outros. Mas grande parte deles não são aprofundados; A necessidade de mostrar um final feliz prevalece e a relevância desses tópicos passa batida.
É claro que depois de muitos anos no ar fica difícil inovar e tentar sair do padrão das temáticas adolescentes. Mas a questão é: que tipo de adolescentes a Malhação quer mostrar?
A juventude da novelinha toma café da manhã com a família, vai à escola, estuda e faz lição de casa, de vez em quando vai ao clube e sempre, sempre mesmo, vai ao point da temporada – que normalmente é uma lanchonete ou algo do tipo. Mas será mesmo que ninguém – no auge de seus 18 anos – consome bebidas alcoólicas? Vai para balada? Vai à praia (principalmente morando no Rio de Janeiro)?
Tudo bem, convenhamos que o horário de exibição da Malhação não permite que temas como bebidas sejam abordados, mas não dá para simplesmente passar por cima disso e fingir que não é algo presente na vida dos jovens.
Se a novela apresenta constantemente preocupação com temas polêmicos, é necessário abordar melhor ainda aqueles que estão mais presentes na vida real. Caso contrário, a fantasia dá lugar à realidade de vez.
O legal das telenovelas é aquela identificação que normalmente acontece com os personagens da telinha… Mas atualmente, é praticamente impossível que algum jovem se identifique com a galera da Malhação.

Mariana Toledo